segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Contramão
Eu sou uma pessoa que sempre fui muito na minha, na infância falava pouco até com as pessoas da minha família. Me lembro de chegar na casa do meu vô quando pequena e não querer falar com ninguém. "Essa menina é um bicho do mato" eu ouvia as minhas tias dizerem. A verdade é que eu sempre fui reclusa, na minha. Meu tempo, meu mundo, sempre no sentido contrário.
Na transição entre a infância e a adolescência as minhas melhores companhias eram as revistas, fossem aquelas astrológicas ou a Capricho (antigamente a revista prestava, vai?). Gostava de Malhação e do Disk MTV. Eu tinha uma melhor amiga por vez, no ensino fundamental era uma, no médio era outra, mas nenhuma delas sabiam muito sobre mim, nunca confiei em ninguém a ponto de contar tudo. Os meus namoricos e paixões platônicas nunca foram muito debatidos com as minhas amigas. Sempre me surpreendi com pessoas que conseguem se abrir, com quem conhece, não conhecem, ou conhecem pouco e, de um tempos pra cá, acabei me tornando uma dessas pessoas. Mas me dei conta que conto sobre a minha vida para pessoas que eu sei que não farão parte dela por muito tempo, às vezes, você tem certa empatia com alguém, mas aquele alguém, não permanece na sua vida, seja por falta de tempo, interesse ou questões geográficas.
E por falar de gente que vem, vai, e às vezes volta, me dei conta do porque comecei a escrever esse texto. Uma amiga do tempo do colégio, e por coincidência do destino, faculdade, casou meses atrás. Já tive amigas de adolescência que tiveram filhos, que noivaram, que foram morar junto com o namorado e depois acabaram voltando pra casa dos pais, mas nunca nenhuma delas havia casado de fato, com padre, igreja, festa e um vestido rodado. Mas agora aconteceu. E aí a gente já começa a pensar na vida, né? Esse é o ciclo natural das coisas? Parece que sim. E as pessoas em volta parecem cobrar que isso não demore a acontecer com você também. Depois do casamento dessa minha amiga minha mãe já começou a falar do meu (nem namorado eu tenho, nem pretendente, nada), mas ela falava sobre o moço trocando trombeta no corredor da igreja antes da entrada da noiva, sobre como ela queria que no meu casamento fosse assim, afinal, eu sou a única filha dela e talvez ela e meu pai tenham que fazer uma poupança pro meu casamento. O assunto por fim morreu.
Só que, depois dos vinte, o casamento é um assunto Highlander, é imortal, é tipo o Jason, cê acha que morreu e ele tá lá 'vivão' só esperando um vacilo seu. E esses dias, uma prima anunciou que vai noivar, já tenho uma prima casada e tals, só que essa está numa faixa de idade mais próxima à minha, ela é mais nova, na verdade. E a primeira coisa que eu ouvi foi "Você tá ficando pra trás". Quem disse isso? Minha mãe, claro. E eu com toda a minha delicadeza respondi: "Deixe elas passarem". Casamento não é algo que eu esteja interessada, mas é algo implícito, imposto, principalmente às mulheres. Homem pode ficar solteiro até os 40, mas mulher não. É ficar pra titia, é encalhada, é feio. Mulher tem que namorar, de preferência com poucos (porque se namoradeira é ruim), casar, ter filhos. Você pode ser profissionalmente realizada e/ou estar bem consigo mesma, mas sempre vai surgir alguém pra perguntar "E os namorado?", ainda mais quando você é a única solteira. Ser mãe solteira, sussa, viúva de marido vivo, sussa. Mas não namorar é complicado.
Sabe, sociedade, que preguiZzzZZzz. Até agora não consegui me realizar profissionalmente, o que menos me preocupa nesse momento e estar dentro dos padrões impostos pela sociedade. Prefiro estar na contramão. Me deixa andar na contramão.
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