sábado, 19 de março de 2011

(In)Condicional

18 de março é dia do fã, nem sabia que esse dia existia, na verdade achava que era todo dia
Todo dia tem um maluco que acorda e a primeira coisa que faz é navegar na net, pra procurar notícia sobre determinado artista.
Todo dia tem um maluco que deixa de almoçar, pra sobrar dinheiro pra comprar o ingresso do show do seu cantor ou cantora favorito.
Todo dia tem alguém mais exaltado, disposto a brigar com alguém, porque esse alguém falou mal do seu ídolo.
Todos os dias.
Sabe, um dia eu fui assim. De juntar dinheiro, que ficar na net, de discutir por causa de gosto musical.
Não sou mais, ACORDEI. Hoje até tenho uma certa preguiça de gente que age assim, mas acredito que seja uma fase, um dia passa.
E eu nem precisei ler o texto a seguir pra acordar;




Amor de fã
Você passaria a madrugada em frente ao prédio do seu namorado, esperando ele abanar da janela? Você escreveria para seu marido um bilhete com dois quilômetros de comprimento, escrito de ponta a ponta "te amo, te amo, te amo"? Você arrancaria um pedaço da camiseta dele com os dentes, choraria convulsivamente ao vê-lo sorrir, passaria fome e frio em troca de um rabisco feito por ele? Se ele fosse o Ricky Martin, que dúvida.

Mulher nenhuma faz pelo Zé que tem em casa o que faz pelo Fabio Assunção, pelo Rodrigo Santoro ou pelo Mauricio Mattar. Amor de fã é passional, ardente, insaciável. Elas fazem qualquer coisa por um homem que nunca viram antes, que não sabem se é bom ou mau caráter, se têm calos nos pés ou se limpa o nariz na manga da camisa.
Apaixonam-se por uma figura idealizada, por um príncipe de faz-de-conta, e assim
compensam suas carências.

Quando vi milhares de pessoas, mulheres a maioria, fazendo vigília em frente ao hospital onde esteve internado o falecido cantor Leandro, pensei: será que elas fariam a mesma coisa por um pai, por um irmão, por um marido? Passariam em claro tantas noites, ajoelhariam-se na calçada, desesperariam-se dessa maneira? Desconfio. O sentimento que temos por nossos familiares é muito mais complexo: são relações de amor e ódio. A convivência humana é implacável. Por mais que amemos quem está próximo de nós, acreditamos que ouvir suas críticas e reclamações, vivenciar sua ironia e descaso, agüentar seus hábitos e manias, tudo isso vale como cota de sacrifício. Em caso de doença, não carece cair de joelhos na calçada, basta rezar uma Ave-Maria em casa.

Com nosso ídolo é diferente. Ele é lindo, rico, afetuoso, só tem qualidades. Facilmente o confundimos com os papéis que representa, com a música que canta. Ele nunca chegou atrasado a um compromisso com você, nunca chutou o seu cão, nunca roncou, nunca a decepcionou, simplesmente porque nunca se relacionou com você: é um amor unilateral e fantasioso. Você projeta no seu ídolo as qualidades que não vê em quem está a seu lado, e entra em surto quando tem a chance de receber dele algo real, nem que seja um autógrafo ou um fio de cabelo. Pecado não é, mas quem dorme sob nosso teto todos os dias merece, no mínimo, a mesma devoção.

Martha Medeiros

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